Escrito por: Jeziel Vinícius
quarta-feira, 10 de junho de 2020
EGÍTO ANTIGO (PARTE 2)
Os sinais fonéticos são figuras que correspondem a sons
específicos. São divididos em: uniliterais ou uniconsonantais (apenas uma letra); biliterais
ou biconsonantais (duas letras); e triliterais ou triconsonantais (três letras). Os sinais
uniliterais são os mais simples da língua, e a partir deles criou-se o pseudo-alfabeto, onde
se encontram os símbolos correspondentes às consoantes e semivogais do nosso alfabeto.
Por último, existem os determinativos. Estes são sinais hieróglifos que não possuem valor
fonético, aparecendo ao final das palavras com a finalidade de indicar seu real significado.
Tais sinais são muito importantes para a escrita egípcia, pois é por meio deles que sabemos
onde termina uma palavra, já que nessa escrita não existem marcas para a pontuação.
Também são importantes para diferenciar palavras que são escritas de maneira
semelhante. Por exemplo, as palavras “escriba” e “escrita” são escritas com o mesmo sinal
hieroglífico, que representa os instrumentos utilizados para a escrita. A diferenciação é
feita pelo determinativo, que no caso de escriba é um homem, e no caso de escrita é um
papiro selado. Existem, ainda, algumas particularidades em relação à escrita que merecem
ser enunciadas, pois aparecem em algumas das publicações analisadas. Uma delas é em
relação aos chamados complementos fonéticos, ou seja, sinais fonéticos que seguem as
palavras formadas por signos bi ou triconsonantais, com a função de enfatizar o som ou
preencher espaços. Os complementos fonéticos, contudo, não são lidos, cumprindo apenas
as funções descritas acima. A função de preencher espaços está diretamente relacionada à
outra característica da escrita, qual seja, organização harmoniosa dos signos hieroglíficos
em quadrados imaginários. Nessa disposição, alguns sinais ficam sobrepostos, sendo a sua
leitura realizada de cima para baixo. Outra particularidade da escrita egípcia está
relacionada à direção de escrita e leitura. Enquanto as escritas ocidentais geralmente são
lidas e escritas da esquerda para a direita, a escrita egípcia antiga pode aparecer em quatro
direções diferentes: da esquerda para a direita; da direita para a esquerda; de cima para
baixo com a leitura a partir da esquerda; e de cima para baixo com a leitura a partir da
direita. Tais direções são determinadas pelas figuras animadas que aparecem no texto. Tais
figuras sempre estão voltadas para o início da frase. Na sociedade egípcia, porém, poucos
sabiam ler e escrever os sinais hieroglíficos. Essa era uma função geralmente exercida por
alguém muito prestigiado, que ostentava o título de escriba. A formação do escriba era
difícil e demorada, até o completo domínio da língua, mas era necessária para a
manutenção do Estado egípcio. O aprendizado também era cansativo, e os professores não
se continham se fosse preciso castigar fisicamente um aluno. Num relato datado
provavelmente da XII Dinastia, a Sátira das Profissões, um pai que conduz o filho para a
escola de escribas descreve as diferentes profissões. Sobre a do escriba, diz: Eis que não há
profissão sem chefe, exceto a do escriba: ele é o chefe. Por isso, se souberes escrever, esta
será para ti melhor que as outras profissões que te descrevi em sua desdita. Atenta para
isso, não se pode chamar um camponês de ser humano. Em verdade eu te fiz ir para a
Residência, em verdade fiz isso por amor a ti, (pois) um dia (que seja) na escola, será
proveitoso para ti. Suas obras duram como as montanhas...Percebe-se, assim, por esse
pequeno trecho, o quanto era valorizada a profissão do escriba em tempos faraônicos. Os
egípcios costumavam escrever em quase tudo que construíam, desde paredes, portas e
colunas de tumbas e templos, a objetos de uso cotidiano. Os escribas aprendizes
utilizavam-se geralmente de lascas de calcário ou fragmentos de cerâmica, chamados pelos
gregos de “ostraca”, ou de tábulas de madeira em suas tarefas, por serem materiais mais
baratos que o papiro. Este era um material caro, destinado apenas àqueles que já possuíam
a experiência e conhecimentos necessários. O processo de produção do papiro aparece
com freqüência nos livros analisados. Esse constava, primeiramente, da coleta do Cyperus
papyrus, encontrado em abundância nas regiões pantanosas do vale do Nilo. Em seguida, o
caule da planta era descascado, e o miolo era cortado em fatias finas. As tiras eram
deixadas de molho em água por alguns dias, para a dissolução do amido. Depois de
retirada a água, as tiras eram dispostas lado a lado, em camadas organizadas em forma de
cruz. As camadas eram prensadas e, depois de unidas, as faces eram polidas e as bordas
aparadas. Os pincéis utilizados eram produzidos a partir do Juncus maritimus, uma planta
que crescia naturalmente no Egito. As extremidades do junco eram cortadas e preparadas
de diferentes maneiras: um dos lados era seccionado na diagonal, enquanto o outro era
esfacelado. Essa diferenciação produzia uma ponta fina, para traços mais delgados,
enquanto a outra se destinava a traços mais espessos. No Período Greco-Romano foi
utilizado o junco Phragmites communis para o mesmo fim. Para a escrita em papiros, o
destaque gráfico das palavras era feito com tinta vermelha, obtida do ocre. A cor mais
utilizada, contudo, era o preto, que tinha como origem o carvão. Para a produção da tinta,
o ocre ou o carvão eram moídos em um pequeno almofariz, e depois eram misturados a
uma espécie de goma. Essa mistura era colocada em locais específicos nas paletas, e ali
ficavam até a secagem completa. Para a utilização, primeiramente o pincel era colocado na
água e depois passado sobre a tinta seca, como numa espécie de aquarela caso errasse uma
inscrição o escriba poderia tentar consertar com a própria língua, com um pequeno pedaço
de pedra calcária, ou com um pano úmido.
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